Eram muitas as memórias protagonizadas e muitos os momentos ali imortalizados. Sempre que olhava, sentia um arrepio percorrer-lhe as entranhas como se vivenciasse de novo cada instante delicioso do passado. Era fácil perder-se por entre quadros vivos de memórias. Via, com a vontade gigante de voltar a encontrar-se, os corpos em movimento, as roupas lançadas ao acaso, as almofadas caídas, os lençóis revoltos, os lábios colados, as mãos perscrutadoras, o prazer ali depositado. Recordava, com a excitação à flor da pele, o cheiro do sexo que aproveitavam sempre até ao último segundo, a fluidez dos gestos tão naturais, espontâneos e sublimados pela paixão que os consumia, o prazer que a sua entrega lhe proporcionava. Ouvia, como se estivesse ainda lá, as palavras brutas, duras, fortes que lhe toldavam a razão e a faziam ter a certeza que era puta para ele, que fodia só para ele, que era dele sem margem para dúvidas. E, desta vez, ao lançar os olhos pelo local onde jaziam os despojos do que haviam sentido, imaginava-o assim, perfurando-a sem pudor, soltando nela a força dos seus músculos, depositando-lhe, animal e carnal, o prazer que ela queria, o orgasmo tão vívido, tão bom, tão seu, tão deles.