O louco, no seu mundo, criado e alimentado da sua própria imaginação e à medida das suas necessidades, vive rodeado de tudo o que precisa. Concentra-se, auspicioso, e materializa tudo o que quer. Vive num mundo seu, coexiste com os seus demónios, trata-os por tu, conversa com eles em verdadeiros saraus, tertúlias, discussões acesas e argumentos de parte a parte. Ela, louca, constrói também o seu. Pega num punhado de purpurinas, brilhantina e missangas, direcciona os holofotes, sopra no megafone, pinta um sorriso no rosto, veste a personagem, prova as pipocas e o algodão doce, mistura-se com domadores de leões, trapezistas sem rede, malabaristas, equilibristas, atiradores de facas, mágicos da cartola. Vê-se, de fora, entregue à mística de um espectáculo de variedades. Um cabaret de sensualidades. Escolhe um voluntário do público, corajoso o suficiente para não recear as consequências das acrobacias mais perigosas, que dê o peito às balas. E começam uma dança única. Uma dança de corpos. Intrépidos, soltam a loucura que contêm nos seus peitos e unem-se no mais terreno prazer. Ela gira em torno dele, percorrendo-lhe a pele com a fúria de uns lábios ávidos, em beijos apaixonados. Ele deixa-se beijar de olhos fechados, inspirando o aroma que ela lhe oferece, sentindo um por um. Estremece quando a sente chegar-se perto, arrepia-se com a ideia de que a fome dela o poderá engolir inteiro. E ela cumpre a ameaça, alimenta-se de um sopro só. Brinca e provoca, fá-lo com empenho, desliza por ele preparando-o para o segundo acto. Chama-o para si, mostra-se aberta a outra encenação, a outro cenário. Ele sente-a preparada, estudou o guião, sabe as linhas de cor. Investe sobre ela, enterrando-lhe a fúria de todo um querer, preenchendo espaços em branco, completando as lacunas de um diálogo de prazer. Argumento atrás de argumento, cada vez mais fortes e menos compassados, a semântica daqueles corpos encaixados deixa de fazer sentido e loucos, mais uma vez loucos, perdem-se entre suspiros e palpitares, entre confettis e aplausos.
Home »
Oh Sweet Idleness
» Oh Sweet Idleness
Oh Sweet Idleness
Posted by Unknown
Posted on 2:19:00 AM