Os raios de sol, espreitam tímidos pela fresta da janela do quarto que nos alberga. Entorpecidos pela brandura do sono que ainda nos acompanha, abrimos os olhos lentamente numa dor ténue mas necessária. Prostrados sobre o refúgio que nos envolveu durante a noite, acordamos a pouco e pouco. E na gaveta onde guardamos as memórias, as boas de guardar, procuramos involuntariamente pedaços da fita de um filme em que fomos os protagonistas recortada para coincidir com os melhores momentos. A roupa suja e dispersa pelo quarto, atirada ao acaso na fúria de um encontro, na urgência de um toque. Os copos de vinho abandonados contendo ainda o líquido rubi que nos aqueceu a alma enquanto com as mãos e lábios aquecemos o corpo.
Acordamos a pouco e pouco, invadidos pela lembrança do prazer partilhado e repartido e apercebemo-nos que a manhã tem ainda mais memórias para criar. Porque a noite encerra em si o tumulto do desejo mas a manhã, idílica, mostra-nos que existe mais fulgor. A manhã, fresca e amena, mostra-nos que ainda não estamos saciados de nós e puxando subrepticiamente um pelo outro, decidimos querer-nos ainda mais.
" Idleness, like kisses, to be sweet must be stolen."