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(Ela) tem Caprichos Matinais XCIX

Hoje sinto o corpo carente, só, demasiado só. Sinto-o a exclamar em uivos em surdina, em frases desarticuladas bafejadas ao ouvido, em gritos incessantes a pedir para ser tocado, profanado, abusado, idolatrado. Hoje sinto a força da vontade a esmagar-me contra a parede, o corpo inflamado pelo desejo de ser consumido, apertado, subjugado, comandado, usufruído e multiplicado ao expoente da loucura, ao máximo da exaustão, ao arder pujante do prazer pelo prazer. Hoje sinto o corpo solitário, a rogar palpitante me sejam lambidas as feridas, me sejam preenchidas todas as lacunas, não deixando suco por provar nem centímetro de pele por explorar. Hoje sinto a mente transmutada e imbuída em insanidade, incapaz de se controlar, incapaz de se concentrar em nada que não seja o saciar do querer, o ímpeto do prazer e do orgasmo explosivamente delirante. Hoje não quero piedade, não quero misericórdia. Hoje não quero saber de nada.