"Tu me manques. Terriblement. Il y a que des temps morts et lieux où je ne veux pas être."
Aguentamos estoicamente a pressão dos dias que contamos mentalmente na expectativa de se ter passado mais um que a conta. Que nos tenhamos enganado a contar ou, a leveza com que flutuamos sobre eles, nos tenha feito dar um pulo maior no calendário. Aguentamos estoicamente a falta que um corpo nos faz, um corpo que nos moldou à sua medida e a cujas exigências e necessidades sucumbimos voluntariamente sem querer. Aguentamos estoicamente sem aquela voz que nos sussurra ao ouvido ora as palavras doces que nos derretem o coração mal habituado, ora as palavras permeadas pela loucura do sexo e da paixão, da carne entregue para ser usada sem refreio. Aguentamos estoicamente a falta da língua que nos acaricia o corpo, preparando-o para o desfecho que ansiamos. A língua que nos toca tão perfeita e nos faz estremecer de um prazer que julgámos não existir. Aguentamos estoicamente a falta do toque que consideramos mágico, indagando sempre se é natural conseguir manobrar-nos assim, em arrepios tão reais como se aquelas mãos se consubstanciassem ali, à distância dos dias, à distância do trilho de desejo que construímos em pegadas pesadas, em passos lentos e sofridos, em olhos que se fecham à noite exigindo que aquele dia seja o dia.