O corpo é o veículo do prazer. Instala-se na mente a vontade de o usar e fazer dele o móbil da satisfação, o instrumento da devassidão que percorre os pensamentos e se concretiza em gestos carnais e movimentos sublimados pelo anseio de luxúria. O corpo move-se sozinho, lânguido, soberano, pavoneando as vontades, impondo-se ao olhar e aos princípios, deitando-os por terra, alimentando desejos, inventando formas de se saciar. Um desassossego, uma inquietude, um nervosismo que se atreve a ser saboroso e delicioso, que nos fita, num esgar aprumado pelo que sabe do nosso íntimo, e nos diz entre dentes, usa-me, toma-me, mexe-me, excita-me, violenta-me, abusa-me. O corpo incita-nos a querê-lo, hipnotiza-nos a satisfazer-lhe as necessidades primárias, exige-nos que lhe sucumbamos e tombemos perante a inexorabilidade do seu querer e de um orgasmo que une num laço apertado a sedução da matéria de que somos feitos e a podridão ideal de que é feita a nossa alma.