Sempre fora um animal indomável, sem um verdadeiro dono, movido pelo instinto e pelas atitudes irrefletidas. As únicas satisfações que dava eram a si mesma e ao seu corpo, as únicas dependências eram o seu viver e o seu caçar. Não conhecia verdadeiramente os fios invisíveis de uma contenção, não acatava de forma voluntária e sem resfolegar qualquer domínio sobre si e sobre o seu corpo. Desconhecia, inconscientemente, a capacidade de outrem lhe conseguir dar numa singularidade só, a liberdade para tudo mesmo lhe pertencendo, desconhecia que alguma vez seria capaz de encontrar o livre arbítrio debaixo da alçada de um só corpo e de um só amor. Até que lhe queimou a pele e lhe imprimiu, numa tatuagem impossível de apagar, o seu nome e o seu toque, dando-lhe espaço para voar e ser livre debaixo das suas asas. Até que lhe viciou o corpo e o coração, num injectar de adrenalina com o doce sabor da paixão, oferecendo-lhe uma pertença que se completava por si mesma e onde cabia a satisfação de todos os seus ímpetos e todas as suas vontades, onde elas eram missão a cumprir e desejos a realizar por ele, com ele. Até que lhe deu a conhecer o mundo, o prazer supremo, o gozo conjunto, mantendo incólume e inabalável a certeza de que seriam um do outro por mais corpos que visitassem, por mais prazeres que experimentassem.