Contrastavam em tantas coisas quanto aquelas em que se sobrepunham. Os cabelos longos de uma e o curto de outra. A pele morena, tingida pelo sol e a branca, imaculada, marfim. O corpo esguio e salpicado, as curvas acentuadas. As calças de ganga e o vestido. As sardas e os sinais. A emotiva e a sensata. Contrastavam em tanto que a olho nu, a ligação estabelecida pareceria votada ao insucesso. Só que, aparentemente tão diferentes, encontraram uma na outra a peça do puzzle que lhes faltava. Viam no olhar que lhe era reflectido, a certeza de que se completavam, a certeza de que o amparo era mútuo e de que a diferença era tão ténue que se misturavam de uma forma líquida e indissociável. Tinham-se na carne, no corpo, no desejo, na aventura. Tinham-se na cumplicidade, na destreza dos planos, no complementar de pensamentos, no terminar das frases uma da outra. E era num comungar de vontades que viajavam juntas, que almejavam a serem maiores, que desejavam voos enormes, que pretendiam fundir-se e tornar-se parte de uma sociedade em que os lucros seriam repartidos equitativamente, em que os sorrisos seriam partilhados e oferecidos, em que o prazer uma da outra seria a preocupação de fundo, em que o lema seria viver sempre, viver tudo, viver como se o amanhã não existisse mais. Só sabiam ser assim, em carne viva, em fogo lento, em orgasmos eternos.