Acho que já não me lembro de te amar. Já não me lembro do cheiro intoxicante do teu corpo, do toque firme das tuas mãos. Já não me lembro da sensação indescritível de ti em mim, já não me lembro a que sabe o teu sabor. Já não me lembro do timbre inconfundível da tua voz, do brilho ofuscante do teu sorriso. Já não me lembro da tristeza do teu olhar, já não me lembro do calor da tua boca. Já não me lembro a que sabem os teus beijos intemporais, o conforto terno do teu abraço. Recordo os trechos de memórias que construímos juntos. "Não os deixes escapar, são o que fazem de ti quem és" dita-me a voz autoritária que oiço na minha cabeça. A verdade é que não consigo e por mais que pense que já não me lembro, a tua presença é estranhamente presente em mim. Ao pensar que não me lembro, lembro. Ao procurar para me lembrar, vejo que não me esqueci. Penso que há sempre qualquer coisa que morre em nós quando o esquecimento se torna demência e o suco da indiferença nos jorra dos olhos em lágrimas cruéis. Mas tu manténs-te aqui, do lado esquerdo do meu peito, torto e torpe. E sinto o teu cheiro que não se desvaneceu, consubstancio o teu toque que não me abandonou, reproduzo-te em mim, egoísta, oiço-te aqui trocista, sorrio-te de volta, envergonhada, olho-te fundo, desesperada, beijo-te sem tempo, desfalecida, abraço-te, desamparada.
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State of the Mind (53)
Posted by Unknown
Posted on 12:09:00 PM