"(...) E o meu marido acusa-me de lhe ter dado cabo da vida sexual. "És tão sisuda", diz ele, "contigo é tudo tão sério, tão terrível, não fazes nada com alegria, com prazer, com humor"... e acho que tem razão. Acho que exagera grosseiramente, mas não deixa de ter razão. O sexo não me dá prazer nenhum. É tudo muito solitário e difícil. Mas a vida é mesmo assim, não é?
-Porque é que não tentas vir-te para fazer um favor ao teu marido?
-Porque não quero.
-Faz isso. Descontrai-te e vem-te. Sempre há-de ser melhor do que discutir.
-Fico tão furiosa com ele.
-Não fiques furiosa. É teu marido Está-te a foder. Deixa-o foder.
-Estás a dizer que tenho de me esforçar mais.
-Não. Sim. Faz isso e pronto.
-Essas coisas não se controlam conscientemente.
-Controlam, sim. Basta que sejas puta durante meia hora. Não morres por isso.
-As putas não se vêm. É evidente que não querem.
-Finge que és puta. Não leves a coisa tanto a peito.
-O problema é dele... ele é que leva a coisa muito a peito. É uma daquelas pessoas que pensam que as mulheres deviam ter orgasmos múltiplos e que dois parceiros deviam vir-se sempre ao mesmo tempo. Bem, tudo isto é perfeitamente normal, é isso que acontece com os jovens, porque para eles é muito fácil. Mas a partir do momento em que há um passado e uns quantos ressentimentos acumulados... oh, existe tanta hostilidade entre nós. E porque é que uma pessoa perde definitivamente o interesse sexual por outra?
-Porque é que não me perguntas antes por que razão neva?
-Mas é razão suficiente para o deixar, não é?
-Não é por essa razão que o vais deixar, se é que vais deixá-lo.
-Não, mas, pensando bem, é essa a raíz do problema. Ele não iria suportar o meu desinteresse.
Philip Roth in Deception