Há tesões impossíveis de contornar. Assaltam-nos num ímpeto, roubando a certeza do socialmente responsável, da postura correcta com que fomos habituados a pensar e a agir, o conforme às leis impostas. Há urgências impensáveis, o aqui e agora, o tem de ser senão rebento, o quero-te sem refreios, o anda sem receios. Há quereres inegáveis, de brutalidade consentida, de esticão, de violência tempestuosa. Há o tira isso que estorva, o anda cá que é já aqui, o não quero saber quem se aperceba, o prazer imediato e inesperado. Somos animais de instinto, libertinos, egoístas seres sexuais, monstros apaixonados pela vida e pelo prazer. Sucumbimos ao desejo mais depressa que a um princípio, cedemos a uma vontade com mais desprendimento do que mudamos de opinião. E amiúde, rasgamos as meias, desembaraçamo-nos da saia, desapertamos o cinto, baixamos as calças, desatamos a gravata e deixamo-nos ir. Porque o desejo contido é carne, é loucura, é prazer pelo prazer.