Dormiam agora profundamente. Haviam esgotado toda e qualquer centelha de força e energia que os seus corpos eram capazes de conter. Causa e efeito, sabiam perfeitamente arcar com as consequências de uma noite de excessos e prazeres, em que o abusar do corpo era palavra de ordem. Descansavam agora, sorrindo tenuemente, imbuídas do saciar que haviam conseguido. Sonhavam agora abraçadas, silenciosamente. Haviam protagonizado acordadas cenas impensáveis, inigualáveis, irrepetíveis. Deambulavam-lhe no pensamento inerte pelo sono, as memórias deliciosas dos copos misturados, entrelaçados, imiscuídos, subjugados ao prazer. Recordavam o doce sabor da pele de uma, o aroma almiscarado e o arrepio incontido das outras. As composições haviam sido tantas, as variações imensas. Haviam-se provado, fundido, saboreado de todas as formas que acharam possível. Haviam levado ao limite o fruir dos corpos que se encontravam à disposição, praticando neles o que sabiam gostar em si. Passearam as mãos pelos cabelos longos e rebeldes, deslizaram as línguas pelos seios erectos, mordiscaram belicamente, beijaram os lábios húmidos, procuraram as línguas ansiosas, fizeram-nas suas. Tactearam pedaço por pedaço, as peles que se roçavam, as texturas que se alinhavam, os pêlos que se eriçavam. Lamberam, carinhosa e violentamente, procurando o gemido mais audível, o desejo mais sentido, o sorriso mais desafiador. Penetraram, dedo a dedo, a gruta que melhor se ajeitava, sentiram o suco abastado de que se regava a partilha, beberam-no, deliciando-se com a heterogeneidade de néctares, com as diferentes formas de sentir, com a cumplicidade dos sexos que usavam e deixavam usar simultaneamente. Alimentaram-se, visual e fisicamente, das explosões de prazer que vislumbravam pelo canto do olho, mantiveram-se ocupadas, reduzindo a exíguos milímetros o espaço que tinham entre si, aproveitando a excitação e o suor que lhes jorrava do corpo denotando o calor que emanavam dos poros. Sucumbiram, enfim, ao cansaço e ao prazer, orgulhosas e saciadas num desfalecer absolutamente mágico.