Demorou-se em preparos. A antecipação de um momento é quase tão importante como o momento propriamente dito e ela saboreava cada minuto que antecedia o concretizar dos desejos com calma, suavidade e paciência, minimalista, exigente, vaidosa e auspiciosa. Havia imaginado e conjecturado mil e um cenários, mil e uma curtas metragens, havia deixado a mente deambular pelas imagens que idealizava e desejava se tornassem realidade às suas mãos, ao seu redor. Demorou-se em preparos. Deixou a água, quente e escorregadia envolver-lhe a pele, enquanto as borbulhas de sabão lhe perfumavam os poros e a inebriavam de suaves aromas. Secou-se, por agora, desejando ver-se húmida e molhada em apenas algumas horas, acariciou os contornos dos seios e das ancas, os ombros e a nuca com a ponta dos dedos, emulsionando e suavizando, tornando-os macios e suaves ao toque. Olhou de soslaio para a roupa cuidadosamente disposta em cima da cama, sorrindo maliciosamente, esperando ser vestida para cedo ser retirada, peça a peça, pouco a pouco, deixando ver as curvas e os detalhes de um corpo único e singular que havia de se misturar no meio de tantos e tão díspares entre si. Escolheu o preto como cor predominante, sempre achou que o preto transmitia mistério e sensualidade, apropriado para a ocasião, um dress-code que exigia para si num momento em que deslumbrar mantendo a classe era a intenção. A lingerie, essa, escolhida a preceito, simples e com apontamentos de renda, adornou-lhe impecavelmente o corpo, assentando-lhe e acentuando-lhe as mais valias que sabia e se orgulhava de ter. Cuidadosa e suavemente, deslizou as meias ligas, encaixou o cinto, certificou-se da sua segurança e enfiou-se num vestido justo, curto o suficiente para lhe denunciar as pernas mas apenas o suficiente para não ser vulgar. Dobrou-se, sentada na beira do sofá, alcançou os peep toes de tacão alto, de verniz preto que há muito esperavam alicerçar o conjunto e embelezar-lhe a figura. Maquilhada, risco negro pronunciado a rasgar-lhe o olhar, blush carmim, ruborizando-lhe suavemente as faces, um toque de perfume, Chance, Chanel, sempre Chanel, pareceu-lhe apropriado. Na clutch, pequena e com apontamentos dourados, enfiou os básicos essenciais e conferindo ao espelho, dando o remate final, fechou e trancou a porta por trás de si. Estava na hora de se fazer ao caminho, de encetar a viagem para o lugar onde se apresentaria discreta mas indecentemente ávida de se entregar aos prazeres do corpo, à mistura de sabores, aos toques desenfreados de mãos, aos roçares de lábios e entrelaçar de línguas, aos penetrares insaciáveis, à viscosidade dos sucos, aos gemidos incontroláveis. Demorou-se em preparos, deliciando-se a imaginar o momento em que nada mais importaria, nem a roupa, nem os sapatos, nem a compostura nem a pose. Chegaria o momento, em que só o prazer lhe preencheria os olhos e o corpo.