Perdida em pensamentos, entregue ao entorpecimento de uma bebida e ao estimulante bafo de um cigarro fumegante e fugidio, carpia agora a mágoa e o sonolento esquecimento da solidão. Na sombra, onde gostava de se mover, na noite, onde gostava de se encontrar, soltava agora os demónios que lhe consumiam os pedaços de alma que ainda lhe sobravam. Retalhos, não passavam de retalhos de um espírito estilhaçado pela vida e pelo seu sofrer.
De cabeça tombada, movimento imitado pelo corpo cansado, imaginava cenários desejados pela libido e consubstanciada em imagens que lhe passavam por trás das pálpebras fechadas e pouco recomendadas a olhos sensíveis. Imaginou-se no mais sórdido dos locais, entregue a um corpo cuja identidade não conseguia vislumbrar por entre a neblina própria da imaginação, quiçá de um sonho, deslumbrada e preenchida por um prazer tão forte quanto a sua vontade de o tornar real. Apagou o cigarro, colocou de parte a bebida. Queria estar lúcida o suficiente para se deixar inebriar do prazer de se tocar ao ritmo dos movimentos pensados e imaginados. Perscrutou por entre o vestido arregaçado, no meio das pernas luzidias do calor que lhe emanava dos poros, colocou-se à vontade. Procurou com a ponta dos dedos o seu centro nevrálgico de excitação e estimulou-o. Lentamente primeiro, como que testando a vontade e acostumando-se à sensação de formigueiro criada pelos dedos sabedores dos seus intentos, mais rápido depois, como que chicoteando o corpo para chegar ao destino mais depressa. Sentiu-se envolvida pelo momento, um momento seu, de intimidade com o seu próprio corpo, de prazer solitário, necessário a extravasar o que lhe queimava por dentro e que a bebida não lograva alcançar. Sentiu-se quente e escorria suor e sucos como prova do esforço tendente à saciedade. Aproveitou o ensejo e introduziu-se nela, tacteando a esponjosa entrada que conhecia de cor, acicatando o corpo em mais uma violenta investida. Contorcia-se ao ritmo dos palpitares e gemidos que não continha. Alcançou, numa breve fracção de segundos, um prazer que tão depressa veio como foi embora, deixando-a anestesiada e ofegante, dormente e inerte. Puxou de um cigarro, sorveu um trago directamente da garrafa. Inspirou o fumo, expirou demónios. Estava satisfeita.