Roçava o descaramento, a petulância, a vaidade. A forma como a olhava e a cobiçava, incomodavam-na. Não era seu hábito encontrar-se sozinha a uma mesa e raramente sentia os olhares pousados em si, apreciando-lhe os movimentos, investigando-lhe a proveniência, a sua história. Passava despercebida por entre o universo, ao qual pertencia como um grão de areia num imenso areal, uma entre muitas, banal. De longe, sentia-lhe a lupa perscrutar-lhe o corpo e circunscrever-lhe o livre arbítrio, a naturalidade e espontaneidade. Ele impunha-se-lhe sem se impor, falava-lhe sem lhe falar, cortejava-a sem a cortejar, mostrava-lhe o que queria sem sair do lugar. Fitava-a, sem desviar o olhar quando confrontado diretamente pelo seu, não mostrava pressa de se afastar, permanecia paciente e silencioso, apenas observando. Não seria ela a intervir, era o que mais faltava, pensou por mais de uma vez. Mas, a verdade, a verdade que lhe ditava o corpo, era que o nervosismo, o tremor, a dúvida, o mistério, a cobiça e o queimar daquele olhar, a intrigavam, a faziam palpitar de desejo, de curiosidade. Por instantes, imaginou-se a deixar-se tocar, a baixar a guarda e deixá-lo entrar, deixá-lo furar a capa da sua normalidade e atingir-lhe em pleno o coração da luxúria. Suspirou e voltou a concentrar-se, devolvendo o pensamento à realidade e esquecendo a loucura que no seu íntimo implorava enfrentar. Procurou-o com o olhar, agora vaidosa e confiante, segura de que lhe despertava o desejo mas já não o viu. Havia-se evaporado antes de ela lhe poder devolver o olhar e lhe dar assentimento, logo agora que estava determinada em jogar. A caminho da saída, um corredor medeava o espaço entre a porta e a sala onde se encontrava. À direita, uma reentrância piscava a neon, uma alternativa à saída. Caminhava lentamente, sufragando a certeza de que não havia inventado aquele cenário e abandonando as vontades que lhe percorriam o corpo, olhou para o escuro corredor. Viu-o. Encostado à parede, calmo e sereno. Resolveu ir ao seu encontro, deixando a inércia para trás das costas, seguindo o instinto, a vontade que lhe fazia bambolear as pernas e tremer as mãos. Não disseram uma palavra. Lançaram-se um ao outro, sucumbiram à urgência. Descobriram uma porta que se abriu sem dificuldade, os obstáculos deixaram de lhes importar. Pegou-a ao colo, arregaçou-lhe a saia, despiu-lhe a blusa. Beijou-a, introduzindo-lhe a língua, fundo e contorcendo-a em labaredas, percorreu-lhe o corpo com as mãos, apalpando-lhe as curvas, comprovando com o tacto aquilo que o olhar já havia indagado. Passou-lhe a mão no meio das pernas, estava derretida, escorrendo tesão e ansiando por que entrasse nela. Gemia de forma audível, indiferente a quem pudesse ouvir, indiferente a juízos de valor. Desembaraçou-se das calças, deixou-as cair ao chão trôpega e apressadamente. Erecto, firme e ávido, empurrou-lho para dentro de uma estocada só, deslizando imparável até lhe atingir o cume, até a sentir contorcer-se de prazer. Subjugou-a ao seu ritmo, entrando e saindo sem pudor, sem parar, beijando-lhe os seios, trincando os mamilos rijos e proeminentes, roçando-se nela, preenchendo-lhe o corpo, invadindo-lhe as entranhas, fodendo-a num momento animal e carnal, numa urgência de vontade, num sublime acto de prazer puro, bruto e compulsivo. Massajou-lhe o clitóris, saliente e inchado, intumescido de prazer, transmitindo-lhe em cada terminação nervosa, espasmos delirantes, tremores, pequenos indícios do culminar. Estocada após estocada, lia-lhe nos olhos a tesão, a luxúria, a incapacidade de controlo, de chegar ao fim e se saciar. Deixou-a vir-se tanto quanto aguentou, deixou-a explodir tanto quanto conseguiu, até que não mais se controlou e lhe depositou no ventre a prova do seu prazer. Gritaram em uníssono, regozijaram. Apressaram-se a vestir e trocaram apenas um "Muito prazer."
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Posted by Unknown
Posted on 2:45:00 PM