Quero começar a escrever. Abro a página com um simples gesto. Permaneço imóvel à espera que as ideias se me apresentem à frente dos olhos e tão só depois as consiga debitar para o teclado. Inspiro-me numa imagem. En passant, observo-as sequencialmente, à espera que uma faça o click e me faça fervilhar as ideias, me dê material para trabalhar. Só que hoje, o meu processo criativo encontra-se transtornado pela presença de imagens reais e que não consigo consubstanciar num simples ficheiro Jpeg. Quando dou por mim, estou parada no tempo, carregando maquinalmente em Enter e procurando instintivamente o Escape. Vejo-me rendida ao prazer como se tivesse saído de mim própria para me observar de fora. O corpo trémulo, ondulante, encosta-se ao corpo que me acompanha e entra em modo automático. Já não sei quem sou nem o que sou. Guio-me pelo instinto e deixo-me levar. Inebrio-me da vontade que me perpassa o espírito como que hipnotizada, de olhos semicerrados e a boca entreaberta sussurrando gemidos, pedindo alimento. E vou directa à sua fonte. Deslizo pela pele que há muito tempo me viciou, depositando leves beijos e ternas carícias. Encontro o membro que me há-de satisfazer. Sei-o de antemão e isso impele-me com a fúria do querer, num caminho sem retorno. Hei-de me vir, tanto. Hei-de sucumbir, rastejando, implorando que o momento se eternize. Agito-o, tomo-o na boca, pego-o com a força da minha vontade, lambo-o e chupo-o, sentindo o seu paulatino endurecer, sentindo a definição das suas formas cada vez mais perto. Decido que o quero em mim. Recosto-me no leito que nos abriga e espero o triunfante preencher do meu corpo, aquela primeira sensação vitoriosa e que dá o mote para as investidas seguintes. Abro-me mais, toco-me, masturbo-me enquanto sinto o esfregar das carnes húmidas, enquanto me deixo acariciar violentamente pelo membro perfeitamente desenhado para mim. E venho-me de sorriso no rosto, gritando a beleza de um orgasmo com o olhar agora sereno, antes impregnado do maquiavélico querer que me permeia o corpo e me trespassa o espírito. Quero começar a escrever. Não consigo. Estou demasiado molhada para me concentrar, estou demasiado excitada para escolher as palavras, estou demasiado bêbeda para articular um simples e mero discurso.